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terça-feira, 27 de março de 2012

Tema Exclusão - A fragilidade da fé

Minha infância foi igual à de toda criança pobre da periferia do interior: pés descalços, perebas, dorsos nus, roupas rotas, conjuntivite, piolhos e tantas outras características que marcam essa fase cheia de surpresas, de descobertas. Os brinquedos eram de fabricação própria, cuja matéria-prima era as quinquilharias que juntávamos com muita alegria. Não havia luz elétrica nem água encanada, mas sobrava criatividade nas cabecinhas cheias de sonhos.
São infinitas as cenas que memória insiste em trazer à baila, como que a brincar com nossa imaginação. Uma em especial vem à baila, à frente das outras, como que a dizer: sou eu! Sou eu! Talvez seja porque Casimiro de Abreu tenha a ver com a história. Está lá, em seu poema “oito anos”:
..”Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
“Rezava as Aves Marias...”
Pois é. Foi numa reza que tudo começou. Explico. Tinha eu meus oito anos e, como meus pais, ia à missa todos os domingos, ao catecismo, às procissões e a todas as atividades que a igreja proporcionava. Aproximava-se o dia de uma procissão especial, em que Nossa Senhora seria coroada. A catequista solicitou que todas as meninas que tivessem vestidos azuis ou brancos dessem seus nomes para comporem o cortejo que envolvia o andor.
Eu e minha irmã tínhamos. Vestidinhos de algodão muito simples, mas das cores pedidas. Demos nossos nomes, toda contentes. Chegou o dia esperado. Lá fomos nós, orgulhosas e felizes em nossos vestidos. Mas alegria de pobre dura pouco, diz o ditado.  Havia muitas meninas lindas em seus vestidos de organdi suíço cheios de babados e fitas largas. Combinavam com o tecido que pendia do andor. E lhe davam um glamour todo especial. E fomos colocadas no final da fila, para não macular a imagem da santa.
Mesmo em nossa inocência, sentimo-nos excluídas. Não pela pobreza que ostentávamos, mas por termos sido afastadas da santa de nossa devoção, por ficarmos impedidas de sentir a emoção de caminhar a seu lado. Não lembro bem a intensidade do que sentimos na hora. Mas deve ter sido doído demais, para o fato ficar marcado em minha memória até hoje. É... a memória brinca e machuca.
Nesses longos anos aprendi muito. Como, aliás, continuo aprendendo. Mas é difícil entender certas coisas. Nunca se falou tanto em “exclusão” como agora. É a palavra da moda. Muitos vão às ruas, a defender idéias e causas de que pouco sabem ou que nada conhecem. Saem em defesa dos excluídos, das minorias mil, dos SEM TUDO...
Para mim, excluir significa essencialmente afastar, desviar, eliminar, lançar fora, pôr à margem, privar. Por isso, penso: que se deixássemos de lado esses modismos e falássemos, ou melhor, lutássemos mais para lançar fora o egoísmo, o preconceito, o desprezo pelas ideias que não são suas, pelos sentimentos dos outros, por inferiores que pareçam?
E se trabalhássemos para extirpar o desrespeito pelo trabalho dos outros, pelo patrimônio público, pelo país de um modo geral?
E se lutássemos para incluir nossas crianças e jovens num mundo melhor, onde a preocupação fosse com o próximo, e não com minorias ou maiorias? Se assim fosse, talvez pudéssemos todos nos lembrar com saudade da aurora de nossas vidas, como fala o poeta.

terça-feira, 6 de março de 2012

O POETA E A MULHER

Eterna fonte de inspiração, a mulher está presente em quase todas as canções.

Misturando sentimentos de amor, ódio, desejo e paixões,
Rondando as cidades, nos bares, nas alcovas, cometendo deslizes
É sempre ela que domina o pensamento e faz brotar poemas de todos os matizes.

Pra esquecer Luiza, o poeta a Maria Helena seu coração entregou.
Divina e graciosa é a Rosa, estátua majestosa, sempre cantada em verso e em prosa.

Enquanto Renata responde a Telma que esse não é seu papel,
Amélia, mulher de verdade, está hoje na praia com Maria Isabel.

Severina vendeu a butique pra Das Dores, que só pensava em namorar
Conceição, que vivia no morro a sonhar com Dora,
Aquela rainha do frevo, inseparável de Luciana dos olhos de mar.

Marina morena na casa de Irene ouvia a canção para Yolanda, esperando a volta de
Inês, que saíra deixando bilhete pra apagar o fogo.
Dinorá, ansiosa, consolava Bárbara, que sofria por uma paixão doentia, recusando-se
A ser como Aurora, que invariavelmente escondia o jogo.

Também Laura, menina de trança e sorriso de criança, rodopiava na sua dança a
Valsinha na ponta do pé.
Mas não conseguia como Emília, preparar um café.
Gabriela, que não pensava em nada, lavava roupa todo dia,
Sem alegria, que agonia.

Ana Julia, menina moça, perdeu o bem-querer para Madalena que,
Mirando-se nas mulheres de Atenas, não fez cenas.
Enquanto rainha dos detentos, Geni se fez um poço de bondade
Para o povo da cidade que a fazia chorar
E Carolina, na janela, muitas Marias viu passar.

Marias e Clarices, que às vezes se pegam a chorar, Vivem a mulher equilibrista, que sabe que o show da vida não deve parar.

O poeta, homem sensível e, cheio de emoção,
Canta a mulher brasileira em primeiro lugar.
Com violão e, principalmente, coração.

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - 08 DE MARÇO


Geni  06/03/2012