Postagens populares

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O nome dela é Luiza - Luiza Hermínia Gallo

Linda, meiga, extrovertida e tantos outros adjetivos que fazem dessa garota uma pessoa de sucesso.
Lembro-me do nosso primeiro contato quando da inscrição para o PROFIT, um programa de atividade física para a terceira idade na modalidade de alongamento. Atendeu-nos com um enorme sorriso que permaneceu durante todo o tempo que durou o projeto.
Para Luiza,todos os dias são como se fossem o primeiro... ou o último. Tem o perfil do comando: disposição, energia e concentração no trabalho. Reserva um cuidado especial para cada aluna em particular, mas não descuida dos estagiários sob seu comando. Se problemas particulares teve, nunca deixou transparecer.
Lidar com idosos hoje está na moda, embora saibamos que não é fácil. Ainda que imbuídas de boa vontade, as pessoas que optam por esse tipo de trabalho nem sempre conseguem vencer as dificuldades que surgem. As turmas são heterogêneas em todos os sentidos: na faixa etária, nas condições de saúde, no nível de escolaridade. Mas a condução de Luiza sempre foi perfeita, mesmo quando teve que trabalhar com algumas intercorrências e egos inflados.
Com muito mérito, é mestra, agora, e certamente vai alçar voos maiores. Sua turma fica triste, mas ao mesmo tempo feliz, torcendo pelo seu sucesso que virá, com certeza. Pessoas como a Luiza fazem a diferença.
Querida
Acredite.  A UNESP deve se orgulhar por ter formado uma aluna tão brilhante.
Turma do alongamento 12/2012

 AULA DELICIOSA


  CONFRATERNI'ZAÇÃO

Uma história diferente

Sítio São José. Os últimos raios de sol fazem ainda mais dourada a cabeleira das bonecas de milho que exalam seu agradável cheiro. Os pés de feijão e mandioca, murchos pelo calor escaldante, esperam ansiosos a brisa suave que por certo a noite trará. No entardecer, tudo se transforma. Da algazarra das maritacas que aos bandos procuram seus ninhos, aos animais de grande porte que se aconchegam nos currais e nas baias. Menos os tatus que, ao anoitecer, saem de suas tocas à procura de alimentos. É aí que nossa história acontece.

PROVEDOR
  Seu Jacó, dono do sítio, observa a cena que acontece quase sempre nesses finais de tarde modorrentos. Provedor, na altivez de sua aparência de soldado russo, com polainas brancas nas patas e pelo todo negro no resto do corpo, começa sua maratona de sempre. Anda de lá para cá, uivando e, com seu focinho longo, cutucando Boneca, até que esta se cansa, entende o recado e sai em disparada, adentrando uma pequena mata próxima ao sítio.

BONECA

Boneca é uma cadela com ares de Barbie. Seu pelo brilhante e todo amarelado dá maior beleza ao seu porte esguio de bailarina. É caçadora por natureza e sempre encontra o que procura: o buraco de tatu. Mas sempre se irrita quando Provedor, se achando o chefe no comando da operação, empurra-a para a tarefa e fica só olhando. Mesmo assim, cumpre o seu papel. Quando Boneca encontra o que procura, late muito. É o sinal. Provedor chama seu Jacó e lá vão os dois para a tarefa final. Agora, é só colocar a mão no buraco e abater o bicho para o farto almoço do dia seguinte.
Essa é uma cena que acontece com frequência no sítio São José. Seu Jacó não se conforma com a atitude do Provedor. Chama-ode preguiçoso e aproveitador, porque se recusa a fazer o trabalho mais difícil, empurrando-o para sua companheira Mas... Como dizia um ministro do governo que caçava marajás, “cachorro também é gente”. E Provedor, como tal, se vale de seus direitos, uma vez que é cego de um olho. Acredito até que ele tenha entrado com pedido de aposentadoria por invalidez. Enquanto ela não vem, vale-se de sua posição de chefe. E chefe é chefe. E ponto final.

Nota: Essa história foi-me contada por dona Maria Chagas, uma nordestina arretada que, nos seus 78 anos, ainda lida na agora pequena terra ao redor de sua casa na cidade.
FTI Geni   26/11/2012

ENTREVISTA- Jeca Tatu

ERRADAMENTE DADO COMO REPRESENTANTE DO CAIPIRA EM GERAL
O famoso “caipira” tem a certeza de que ajudou, pelo menos em parte, a consertara visão distorcida que se tinha do homem do campo.
 Jeca Tatu, homem simples que habita a região rural do Estado de São Paulo, ficou muito conhecido quando da revolta de alguns fazendeiros contra os sertanejos brasileiros que, segundo eles, eram os responsáveis pelos incêndios nos campos. As famosas queimadas, segundo os reclamantes, eram praticadas em demasia e, portanto, prejudicavam os proprietários da terra.
Deitado na rede na varanda de sua casa da fazenda, entre um cigarrinho de palha e um gole de café, gentilmente nos concedeu essa entrevista.
Jeca Tatu. É esse o seu nome verdadeiro?
É assim que gosto de ser chamado.
Ouvi dizer que sua história tem duas interpretações: uma com a visão romântica do homem simples do interior, que fala errado, anda com roupas de riscado e chapéu de palha, é ingênuo, mas extremamente bom e tem profundo amor à terra. Pela outra visão, esse mesmo homem é visto como indolente e alcoólatra,acomodado na pobreza máxima, sem hábitos de higiene, desprovido de cultura  e avesso ao trabalho, funesto parasita da terra e responsável pelos problemas da agricultura.O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Bem... Nem uma coisa nem outra. Nem tão ingênuo, nem bandido.
Explique melhor
O Jeca Tatu que vocês conhecem não se sente representado hoje pelo homem do campoo caipira que muitas vezes é ridicularizado como se fosse um imbecil. É muito melhor representado pelo sertanejo que luta em suas terras trincadas pela seca, que com seus corpos esquálidos e mãos trêmulas, sem conseguir plantar e colher para seu próprio sustento  tentam sobreviver esperando o açude que não vem.
Se a visão do homem simples é distorcida a do homem preguiçoso é real?
Essa segunda visão era fruto da situação do caboclo brasileiro, abandonado pelos poderes públicos às doenças e à indigência, à precariedade da saúde das populações rurais. Minha história, por exemplo, mudou radicalmente quando um médico cruzou meu caminho. Ao passar diante de minha tosca residência, assustou-se com tanta pobreza e, vendo minha coloração amarela e intensa magreza, decidiu me examinar e sem muito esforço diagnosticou o meu problema grave de saúde.
 Que problema era esse e quais eram os sintomas?
Sentia muita fadiga e dores corporais. O que as pessoas viam como preguiça, era na verdadeuma enfermidade tecnicamente conhecida como ancilostomose, o famoso amarelão. Depois que tomei os remédios recomendados, mudei meus hábitos de higiene e passei a usar sapatos (os vermes que provocam esse distúrbio introduzem-se no corpo através da pele dos pés  e das pernas), minha vida mudou completamente. Curei-me, reduzi a bebida,voltei a ter melhor disposição para o trabalho,minha plantação prosperou e me tornei um homem honrado.
Qual a conclusão que o senhor tira de tudo isso?
 Minha história revela que medidas simples poderiam transformar o cenário sombrio onde personagens iguais a mim são tidos como indolentes e alvos fáceis de pessoas mal intencionadas, que sabem o diagnóstico mas, depois de uma passagem rápida que se repete a cada quatro anos, deixam essas pobres criaturas à sua própria sorte.
Sua história ficou muito conhecida, isso é orgulho para o senhor?
Fiquei conhecido e famoso porque sou a imagem do ser legado ao abandono pelo Estado, deixado à mercê de enfermidades típicas dos países atrasados, da miséria e do atraso econômico. Felizmente, essa imagem foiutilizada também como instrumento em operações de esclarecimento sobre a importância do saneamento público e a urgência em erradicar doenças como o amarelão, que matava tantas pessoas nos anos 1920. Isso não é motivo de orgulho,mas fico feliz se, pelo menos, servi de instrumento para a tomada de consciência do povo brasileiro.
Estamos no início do século XX. O senhor acha que até o fim do século nosso país terá resolvido essa situação?
Quero crer que sim, porque o homem da terra só a deixa em último caso, assim mesmo com muita tristeza. Muitas das vezes, não se adapta à nova situação e passa a sentir-se amargurado e infeliz. Quiçá no século XXI nova visão se descortine para um cenário pintado com as cores da esperança.
Obrigada pela entrevista, mas uma última perguntinha: O senhor não quer dizer mesmo seu nome verdadeiro?
JOSÉ BENTO MONTEIRO LOBATO

Geni Bizzo – Jornal literário Claretianas10/2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

­­­­UMA HOMENAGEM À GENI.


Corria o ano de 1942. Tempos difíceis. Na Europa, Hitler encetava o cerco a Estalingrado, batalha que ficou conhecida como a maior e mais sangrenta de toda a História. Na América do Norte, o ataque a Pearl Harbor provocara a entrada dos Estados Unidos na frente contra os Súditos do Eixo. No Brasil, os ares não eram mais amenos. Um acidente automobilístico imobilizou Getúlio Vargas por quinze dias, durante os quais permaneceu totalmente incomunicável, gerando rumores de que uma pancada na cabeça havia comprometido suas faculdades mentais e antecipando movimentos conspiratórios que abreviaram o final do Estado Novo.
Mas não só de tragédias vivia o mundo. Luzes se acendiam no final do túnel, pelo menos no campo das artes. Aquele foi o ano do nascimento de celebridades, como Paul McCartney, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tim Maia entre outras. Destas, a mais importante, e que a nós interessa diretamente, nasceu na madrugada do dia 28 de setembro.
Num casebre do bucólico interior da cidade de Araçatuba, um jovem casal aguardava ansiosamente a chegada do segundo filho. Um homem, com certeza, torcia principalmente o pai aflito, já que o primeiro rebento, nascido há pouco mais de um ano, havia sido uma menina. Mas não foi desta vez que o destino lhe concedeu um varão que perpetuasse o nome da família. Se a angústia da espera esgotou-se no nascimento, a expectativa do rebento macho não se confirmou. O que veio ao mundo naquela madrugada fria foi uma menininha, com seus parcos cabelos dourados como a geada formada pelos cristais de gelo que cobriam a vegetação e embelezavam a paisagem.Geni. Essa foi a escolha do pai para o nome da menina. Deolinda, embora paulista da gema. Seu nome, aliás, foi uma das tantas idiossincrasias do pai, já comentadas em verso e prosa.
Os dias transcorriam serenos para aquelas crianças, dias que se converteram em anos. Se tranquilos para os meninos, eram tempos de grande apreensão para os pais. O café, principal suporte econômico para a região, dava sinais de esgotamento e já era visível o movimento dos cafeicultores em direção ao Norte do Paraná.  A quarta gravidez fez aquele chefe da família, já desgostoso com estilo difícil de vida que levava, tomar a decisão de engrossar as estatísticas do êxodo rural e partir para a cidade, mulher e filhos a tiracolo.
Na cidade, aquela pequena menina já ajudava nas lides da casa, principalmente nos cuidados com os irmãos mais novos. Mas foram tempos tranquilos. Nas suas próprias palavras, a vida era simples nas brincadeiras na rua de terra vermelha, na casa sem luz elétrica e nenhum conforto, nas balas de tostão do nono, na água retirada do poço, nas missas todos os domingos, nas verminoses, conjuntivites, berebas, e todas as doenças comuns na infância, no aconchego da grama verdinha das noites enluaradas e salpicadas de estrelas...
Mudança de endereço, nova casa, se assim podia-se chamar aquelas quatro paredes cobertas de telhas francesas, onde estava tudo por fazer, da cozinha à latrina, passando pelo chuveiro e pelo piso de tijolos expostos. Os folguedos de criança-adolescente foram cedendo vez às atividades domésticas. Além dos cuidados com os irmãos mais novos, ainda existia o vaivém das trouxas de roupa que a mãe lavava para fora numa tentativa de auxiliar na economia doméstica; o buscar dos restos de comida no centro da cidade para alimentar o porco que engordava no fundo do quintal; a arte de homogeneizar a cera e o vermelhão diluídos em gasolina aquecida no fogo para brilhar o piso, agora de cimento vermelho; o cuidado com os irmãos e, ainda, nos finais de semana, o auxílio ao pai nos trabalhos de oferecer à casa um mínimo de habitabilidade.
A saúde frágil da mãe foi um marco na vida da Geni. E, à medida que se agravava o estado de saúde de Dona Pina, mais clara ficava a mudança do papel daquela menina no teatro da família: mais ela saía de coadjuvante para protagonista; mais ela deixava de ser a ajudante da mãe para assumir definitivamente o papel de dona de casa, o que acabou acontecendo com a viagem que, depois de muito sofrer, a mãe empreendeu para o Oriente Eterno. E dificilmente seria diferente. A morte prematura produzira naquele lar um viúvo ainda jovem, pai de seis filhos, pedreiro por profissão, cujos parcos recursos, aliados aos traços de sua cultura, tornavam impensável qualquer iniciativa de se contratar uma pessoa a soldo para auxiliar nos trabalhos domésticos.
Geni acatou seu destino, mas não podemos dizer que o tenha aceitado totalmente. Aos 16 anos, aproveitando a abertura de aulas no período noturno, retomou os estudos. Assim que pôde, foi em busca do sonho de escrever sua própria história e ingressou na Nestlé. Sonho efêmero. Sua ausência nos cuidados da casa provocou a ira do pai, dado a arroubos de cólera, que transformou sua vida num verdadeiro inferno e a fez sucumbir, deixando o emprego para retornar aos cuidados com a casa.
Concluídos os estudos, diploma de professora primária na mão, tentou novamente sair em busca de seus sonhos, e foi trabalhar como professora na Olaria da Paula, na zona rural. À noite, dava aulas de alfabetização de adultos. Mas não seria ainda desta vez. Como não foi o emprego como professora na Cesp no período de construção da Usina de Jupiá. Emprego ambicionado por qualquer professora primária da época, dele teve que declinar, tamanho era o fuzuê que se formava toda vez que ameaçava deixar os afazeres domésticos para cuidar de sua própria vida.
Mas milagres acontecem. E ele veio de cima. Não do céu, mas do Norte. Mais precisamente, do Nordeste. Mais precisamente, ainda, de Fortaleza, na pessoa de Maristela, com quem o pai se casou numa aventura que mereceu outra crônica. Desta vez existia outra pessoa para assumir o papel que lhe fora reservado até então. Agora, nada mais a segurava. Contava já trinta anos quando, vitoriosa em prova de seleção para o magistério primário em São Paulo, seguiu de mala e cuia para a Grande Cidade. Desta vez sem volta. E lá foi a Geni, finalmente, escrever sua própria história.
Tudo muito difícil, escola de periferia, barra pesada, problemas de todos os gêneros. Mas, pela primeira vez, os problemas eram dela, e a ela competia resolver. E o fez com galhardia. O acúmulo do magistério no município com uma cadeira no Estado engrossou sua conta bancária. Daí, o primeiro apartamento, financiado a perder de vista, mas seu; o primeiro carro. Tudo era novidade, tudo era comemorado como uma grande conquista, tudo era motivo de orgulho de ver que, yes, ela podia!

símbolo do seu time

Sem nunca abandonar os estudos, os cursos de aperfeiçoamento de que participou acabaram por guindá-la à condição de diretora. E foi nessa época, salvo engano, que conheceu Da. Miltes e o Centro Espírita Obreiros do Senhor, em São Bernardo do Campo, onde foi obreira útil e dedicada, lembrada até hoje com muita saudade pelos colegas que lá ficaram quando mudou-se para Rio Claro. Só o trabalho como voluntária no Obreiros daria um outro texto, tamanha foi a dedicação com que se entregou à arte de servir ao próximo e ao Criador.
Já aposentada dos dois empregos e por incentivo da irmã, foi-se juntar a ela em Rio Claro. Espírito inquieto, não se quedou no dolcefarniente da aposentadoria. Para além da presença constante no convívio com as irmãs,sobrinhas e madrasta, ingressou na Faculdade da Terceira Idade, em que é uma das mais assíduas e dedicadas colaboradoras, principalmente nas oficinas de literatura de que participa. E, como a confirmar o oráculo que descreveu seu destino, voltou às suas origens. Hoje dedica-se, entre outras coisas, a cuidar dos irmãos com o mesmo desvelo com que o fazia quando éramos todos pequenos.
Essa é Geni, nossa irmã, amiga e mãe adotiva. E é para essa guerreira e vencedora que nós, neste momento, tiramos o chapéu.

28.09.2012

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Família grande ou grande família?


Essa família é muito unida, e também muito ouriçada.Brigam por qualquer razão, mas acabam pedindo perdão...”Música de abertura de um programa semanal da Globo.
É tradição na teledramaturgia brasileira construir histórias que têm como tema central a família, principalmente aquela caótica e divertida, ingrediente de sucesso garantido porque cai no gosto popular.
Nessa linha, “A Família Trapo”, série inspirada na família vonTrapp, de “A Noviça Rebelde”, foi a primeira comédia de situação nos anos 1960; “Sai de Baixo”, série da Globo que utilizava a linguagem teatral e ia ao ar nos finais de noite dos domingos, ficou no ar por longos 7 anos. “A Grande Família”, também da Globo, repete o feito. Na décima-segunda temporada, a história ambientada em um subúrbio fictício de uma grande cidade apresenta personagens espalhafatosos e sentimentais, mas sempre muito unidos, apesar das confusões que criam durante a trama.
Pensando nisso me veio à lembrança uma frase que meu saudoso irmão Antenor costumava dizer, referindo-se à nossa família: “Nóis não tem defeito; os outro, se não tivé, nóis  põe”. Nossa família é grande, mas também uma grande família, inclusive no sentido dado pela série da Globo. Em várias situações falei sobre o assunto. Hoje, o enfoque é a irmandade.
Somos sete irmãos, filhos de dois casamentos de meu pai. Embora possamos agir de forma diferente, dependendo da situação, somos muito parecidos física e emocionalmente. Nossas características individuais são sempre preservadas e respeitadas. Uma delas: nós nos amamos muito. E o carinho que temos um pelo outro estendemos a todos aqueles que passaram a fazer parte do grupo, seja por ligações conjugais, seja por laços de amizade.
Eu disse que nos respeitamos muito. Mas essa nossa característica não nasceu conosco. Foi resultado de um grande aprendizado durante a vida, principalmente imposto pelo meu pai, que não admitia brigas entre irmãos e muito menos que seus filhos ficassem sem se falar. Na minha casa não existia discussões nem xingamentos. Mesmo que talvez por medo, aprendemos a colocar sempre o respeito em primeiro lugar.
Gosto de falar de minha infância que, apesar das muitas privações, da ausência de sonhos, das decepções e enganos, é fonte de lembranças de uma família unida por elos de afeto muito fortes. Hoje, trazendo um pouco de volta o passado, quero registrar um momento de cada um na nossa convivência.

Evanir, a primogênita. Apesar de termos quase a mesma idade (sou apenas um ano e três meses mais nova), somos muito diferentes em todos os sentidos. Desde criança, Vani – como é normalmente chamada – foi muito comportada. Aprendeu corte e costura com apenas doze anos e, desde então, puxou para si o cuidado com as roupas de toda família. Mais feminina, não gostava das brincadeiras de que eu participava, como subir em árvores, correr pela rua esburacada, brincar nos riachos formados pela água da chuva e que desciam como uma veia rompida. Por isso, vivia eu com as roupas desgrenhadas, o que acabava resultando em mais trabalho para ela. Desde garota gostava muito de dançar e o fazia muito bem. Mesmo com nossas diferenças, éramos parceiras e nos ajudávamos mutuamente, sempre com muita cumplicidade. Meu registro fica por conta de uma viagem que fizemos ao bairro da Prata, um povoado de Araçatuba, local de nosso nascimento e onde até hoje residem alguns nossos parentes sitiantes. O trajeto, se feito hoje de carro, não dura mais que 20 minutos. Mas naquela época era diferente. O caminho era percorrido em uma “jardineira” (espécie de perua desengonçada, com o motor na frente e duas portas que se abriam na parte traseira). E lá ia a jardineira, na sua longa viagem, sacolejando na estrada poeirenta e cheia de buracos. Num dado momento, não se sabe como, a porta se abriu e lá se foi a Evanir pequenina (devia ter uns cinco ou seis anos, não me recordo bem). Minha mãe gritou desesperada e o motorista parou. Descemos todos apavorados, mas foi só um susto. Vani sobreviveu com apenas alguns arranhões e a roupinha nova toda suja da terra vermelha que, em grande quantidade, amorteceu a queda que nem foi muito violenta. Afinal, a velocidade do veículo era pouco maior que a da marcha de um cavalo. Não me lembro de muitos detalhes, mas essa imagem forte ficou retida na minha memória.
Agenor, o terceiro filho, dois anos mais novo que eu. Sempre fomos companheiros, quer nos afazeres domésticos de que sempre cuidamos desde muito cedo, até a ida à escola. Meu irmão, desde garotinho, sempre tinha sua própria opinião, o que o fazia isolar-se um pouco. Era ensimesmado e se refugiava nas leituras de seus gibis e revistas sobre cinema. Entre nossos afazeres domésticos, um consistia em transportar a água que colhíamos de uma torneira próxima à cerca da entrada da casa até o tanque que ficava nos fundos. Acho que fazíamos uma centena dessas viagens todos os dias, porque a roupa a lavar era muita e mamãe era muito exigente quanto à limpeza. Atravessávamos um pedaço de madeira na alça de um balde, para que cada um pudesse segurar de um lado, o que distribuía o peso e aliviava a carga. Não raro ele soltava seu lado, seja porque eu não fazia alguma coisa direito, seja por qualquer outro motivo. A água entornava e o “caldo” esquentava para os dois porque, como já disse, em casa as consequências eram sempre do grupo, não importava de quem era a razão. Quando íamos levar o almoço para papai, caminhávamos por entre os trilhos da linha férrea. No percurso, combinávamos que cada um levaria um pouco o bornal com a comida e o café até um ponto que demarcávamos. Eu, sempre tagarela, entabulava uma conversa que o fazia não perceber que o trecho dele havia terminado e, com isso, fazia com que ele carregasse a carga por mais tempo. Quando descobria que havia sido ludibriado, soltava tudo no chão e, de raiva, recusava-se a continuar no jogo, fazendo com que eu levasse o almoço de papai até o fim. Pequeninas coisas, mas de grande importância, lembradas com saudade da nossa parceria, que permanece até hoje.
Nestor, o quarto. Lembro-me do dia do seu nascimento e da mudança para a cidade, apenas 20 dias depois. Eu, com apenas quatro anos de idade, segurava aquele pequenino no colo, para que nossa minúscula mudança fosse colocada no caminhão. De temperamento calmo, gostava de brincar com seu estilingue ou com as bolinhas de gude junto com os meninos da vizinhança. Mas também tinha seus afazeres. Buscar verdura na horta, transportar água para casa e serragem para o fogão eram algumas de suas tarefas. Ajudava-me também quando levávamos a roupa passada para a freguesa de nossa mãe. Eu levava a trouxa mais pesada e ele cuidava dos cabides com as camisas. Certo dia, distraído como ele era, deixou cair as roupas no chão de terra. Foi um Deus nos acuda. Catamos logo, sacudimos, assopramos e colocamos no lugar. Se a patroa percebeu, nunca falou, nem tampouco contamos para nossa mãe. Distraídos sim, bobos não. Talvez ele não se lembre.
Antenor, o quinto. Gorduchinho e o de menor estatura. Muito inteligente, matriculou-se sozinho numa escolinha de emergência que havia no bairro. A escola era assim chamada antes da construção do grupo escolar para onde ele foi transferido depois. Conversou com a professora, falou que queria estudar e minha mãe foi chamada para que fizesse a matrícula oficial antes do tempo previsto na lei. Tinha ele menos de dois anos quando nos mudamos para perto do “seu” Claudionor (Nonô, como era chamado) que, para nós, era homem de posses – tinha coisas que não sonhávamos ter, como liquidificador, rádio vitrola e uma vida com melhores condições do que a nossa. Gostava de tocar seus discos de 78 rotações num som alto que aborrecia meu pai, mas que deixava o Antenor empolgadíssimo em sua dancinha circular com grossas perninhas tortas. Sua musica preferida era Dom Pedrito, cantada por Bob Nelson. Bastou isso para que “seu” Nonô o apelidasse com o nome da música. Apesar de seus sete filhos, ele se encantava mesmo era quando via o mano dançar. Antenor partiu “antes do combinado” deixou muitas lembranças, entre elas o mote deste texto.
Nair, a sexta e última filha da minha mãe. Ela foi minha boneca, meu bichinho de pelúcia, coisas que eu não tive. Desde que nasceu foi muito apegada a mim, não tanto pela afinidade que temos, mas pela necessidade. Minha mãe trabalhava muito e não podia cuidar dela o tempo todo, e me passava essa atribuição. Eu tinha dez anos e queria brincar com minhas amigas, mas minha mãe só deixava se eu a levasse a tiracolo para onde fosse. Ela fazia parte das minhas brincadeiras. Lembro-me de  um dia em que eu a balançava no berço ­– o mesmo que havia sido construído pelo meu pai e que embalara todos os outros e que por isso, já estava todo remendado e com o balanço não muito confiável. Eu, dentro do berço com ela (imaginem a cena apertada no minúsculo espaço) cantarolava para que ela dormisse enquanto, aos solavancos, tentava controlar o tal balanço desgovernado. Não deu outra. Fomos as duas pro chão, deixando minha mãe apavorada com nossos gritos – os meus pelo medo dos beliscões que com certeza viriam.
Sílvio César, o sétimo e último filho do papai e o primeiro com Maristela, em seu segundo casamento. Trinta anos separam nossas datas de nascimento. Por isso, tenho frescas na memória muitas recordações de sua infância, algumas bem marcantes. Mas uma em especial foi, e ainda é, motivo de muita piada. Por isso, é sobre ela meu relato. Sempre que sabia de minha visita à casa de nosso pai (eu morava em São Bernardo do Campo), ele aguardava ansioso o presente que seguramente viria. Ele devia contar cinco anos aproximadamente, não me lembro bem, e era carnaval. Eu, apegada à arte indígena e a seus costumes, não tive dúvida: levei de presente uma fantasia de índio. Ele a vestiu teve seu corpo pintado, foi fotografado, uma festa. Para os outros, não para ele. Não entendi o porquê de seu choro e de sua recusa a um presente que eu havia escolhido com tanto gosto. Só mais tarde fiquei sabendo o motivo, que até hoje nos faz rir. Ele mesmo, espirituoso que é, sempre que surge o assunto fala dos "anos de terapia a que teve que se submeter para superar o trauma".  Ele estava esperando uma fantasia de super-herói, e recebeu uma de índio, não tão herói assim e ainda por cima rosa. Até hoje, quando nos encontramos, esse assunto vem à baila, só para fazer retornar minha dor de consciência.
Quando nossos amigos estão presentes nas nossas reuniões alegres ou tristes, percebem e comentam o quanto nossa família é diferenciada. Fazemos de tudo para permanecermos unidos aparando arestas, abafando egos, deixando de lado melindres, porque situações embaraçosas também existem nessa família como em qualquer outra. Entretanto, o que nos diferencia é a maneira como tratamos as situações e nada, mas nada mesmo, consegue nos separar. Segundo uma amiga querida, nós somos uma “máfia” e o nome Bizzo que carregamos com orgulho é sinônimo de superação, de amizade e de um enorme querer bem.
Com muito carinho quero registrar aqui o trabalho muitas vezes silencioso e discreto, mas que teve e tem papel fundamental para manter agregados os grupos que se formaram a partir dos casamentos na família. Além do nome que herdaram, minhas cunhadas carregaram também a responsabilidade de não interferir nem permitir interferências que tisnassem o brilho dessa “grande família”. São elas:
Vera Lúcia, casada com Agenor;





Marilene, casada com o Nestor;






Maria Auxiliadora, esposa do Antenor e que o antecedeu na “grande viagem”,






Maria Cristina (Kiti), depois Tatiana, casadas com Sílvio César.






Por último, meu cunhado Hirata, tão companheiro em qualquer circunstância que não carrega o nome, mas mantém a mesma disposição e o cuidado de ajudar manter essa tão bonita união. Com eles nossa família foi ampliada pelos casamentos dos filhos que vieram dar um colorido especial em nossas vidas e também nos trouxeram seus familiares, que entendemos uma grande extensão da nossa família.

Falar de minha família daria uma coleção de livros, mas não é esse o objetivo. Se faço esses pequenos registros é porque não quero deixar morrer nossas tradições nem confiar só na memória, que um dia poderá me trair. Escrevendo, eu a exercito esperando que, no futuro, alguém possa resgatar alguns dados pra preservar nossa história.







terça-feira, 18 de setembro de 2012

ADOLESCENTES INFRATORES: IMPUNIDADE OU INTERNAÇÃO?

Decisão do STJ deverá orientar os tribunais inferiores no julgamento de casos que envolvam traficantes adolescentes. A corte seguiu à risca um artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Pressupõe que, no lugar de internação, os juízes possam lançar mão de penas alternativas, como a liberdade assistida ou o trabalho voluntário – ambas de responsabilidade das prefeituras.Ocorre que,na maior parte do Brasil, essas penas não passam de ficção. Apesar de a lei oferecer essas opções, na vida real os juízes têm só duas escolhas: a internação ou a impunidade.
O que se sabe é que, se grande parte dos jovens que sofrem internação tornam-se profissionais do crime, as penas alternativas favorecem a impunidade. Pautadas por essa realidade, as discussões ficam mais acirradas quando alguns desses jovens infratores cometem um crime hediondo, como é o caso da comoção provocada pelo bárbaro assassinato do menino João Hélio no Rio de Janeiro. Muitas pessoas, inclusive do meio acadêmico, manifestaram-se a favor da reintrodução da pena de morte no Brasil, na contramão do que ocorre nos Estados Unidos, que vem abolindo essa prática em vários dos seus estados. Em nosso país, com leis deficitárias e instituições corrompidas, muitos absurdos e injustiças poderão ser cometidos em nome de uma pretensa ordem.
De qualquer forma, a emoção pode não ser boa conselheira nesses assuntos. Agir movido pela indignação ou pela raiva é muito perigoso. Assim procedendo, podemos dar tratamento desumano e degradante ao assunto, pois todos sabemos que os sistemas judiciais são propensos a falhas e sempre haverá o risco de uma decisão equivocada. Por outro lado, a excessiva centralização na razão pode gerar equívocos perigosos. Nesse sentido, a posição de um ministro da Suprema Corte, de que “é preferível um bandido solto a um inocente na cadeia” deve ser considerado sob dois ângulos. Se, de um lado, causa indignação vermos um inocente sendo punido injustamente, por outro lado, como imaginar o sentimento de uma mãe ao ver solto alguém que, ela acredita, seviciou sua filha? Será seguro para a sociedade, se, ao concedermos o benefício da dúvida por falta de prova material quando sobram indícios de culpa, deixarmos solto alguém que poderá pôr em risco a segurança de uma comunidade inteira?
Sobre o assunto é ilustrativa a notícia que sensibilizou o mundo e foi reproduzida pelo radialista Adauto Monteiro, locutor da Rádio Paraíso, na cidade Guarabira, interior Maranhão: no dia dois de maio de 1960, precisamente às dez horas e doze minutos pelo horário oficial de Brasília, acontecia a execução de Caaryl Chessman, o “bandido da luz vermelha”, condenado à morte pela câmara de gás no estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Esse caso levou o mundo todo a repensar suas leis. Chessman, durante os 12 anos em que permaneceu no corredor da morte na prisão de San Quentin, estudou direito e fez sua própria defesa. Leu mais de dois mil livros, escreveu e publicou outros quatro, dos quais o mais famoso, “2455 – Cela da Morte”, foi bestseller no Brasil.  Este e os outros seus  livros correram o mundo, deixando atônitos os leitores ao provocar diversos sentimentos, da pena à extrema raiva. Seu crime (brutalização de duas raparigas nos arredores de Hollywood) nunca foi comprovado e sua condenação baseou-se em provas circunstanciais alimentadas por um passado fértil em transgressões à lei, na confissão supostamente extorquida e no grito da multidão sedenta de vingança. 
O indivíduo deve responder por seus crimes, não importa sua idade. Mas há que se fazer e cumprir leis que não firam a dignidade humana. A vida humana não é um acaso. Matar é impedir que ela se desenvolva. É uma falsa solução para um problema real como a criminalidade. Fazer justiça com as próprias mãos nos reporta ao Código de Hamurabi, no reino da Babilônia de 1780 a.C., “olho por olho, dente por dente”, fórmula cruel e bárbara que descreve melhor a vingança do que a necessidade de punir. Na Epístola de Pedro 1-4.8 encontramos “o amor cobre uma multidão de pecados”. Essa passagem nos ensina sobre a lei da reparação através da prática do bem, possibilitando ao condenado que pague suas dívidas de maneira a se reerguer e tornar-se sendo útil à sociedade e a si mesmo.Uma frase atribuída a Gandhi diz que “o olho por olho torna o mundo mais cego”.
Que os infratores possam ser responsabilizados por seus delitos por meio de penas alternativas, como a liberdade assistida, ou pela internação pura e simples. Mas que, em qualquer caso, o Estado crie e mantenha instituições fortes e competentes, gerindo de maneira eficaz os recursos que todo cidadão paga através dos tributos pesados.
Geni 03/09/2012   FTI – oficina literária – tema- Notícia de impacto


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Antonio Moreira - Grande amigo


 Na penumbra da sala
Faíscas cintilantes explodem nos olhares atentos
Silencio total na expectativa
o raciocínio é lento
 Mas o sorriso é farto evidenciando a vaidade encoberta

O lirismo embala os sonhos
A emoção domina a cena
Sandra incentiva...
Soltem as amarras e voem
Nas asas do sonho real de Clarices, Coras e Adélias

O varão sorri de soslaio do alto de sua cátedra
pois poeta é,
Tem brilho próprio que a humildade esconde.

Pobres de nós
Haja neurônios
Os meus estão já não sei onde.
*************
Faculdade da Terceira Idade - Oficina Literária - Professora Sandra Baldessin
O poeta citado no texto - Um aluno e grande amigo  Antonio Moreira

terça-feira, 10 de julho de 2012

Exemplo a ser seguido

Em Matão, cidade do interior de São Paulo, já é tradição a comemoração de Corpus Christi que atrai milhares de pessoas, seja pela fé, seja pelas verdadeiras obras de arte preparadas durante o ano inteiro e levadas a cabo na madrugada que antecede a festa.
Para enfeitar as ruas por onde passará a procissão, os artesãos, esses artistas anônimos, num concerto de solidariedade e amizade, utilizam uma infinidade de materiais, como serragem, grãos, vidro moído, dolomitas, tecidos, flores, numa infinidade de cores que encantam os olhos de quem visita a cidade. Neste ano, chamou à atenção a grande quantidade de mantas grandes e coloridas, todas trabalhadas com o famoso fuxico, que são, posteriormente, doadas para famílias carentes.
Essas mantas compostas de quadradinhos de lã coloridos montados artisticamente numa combinação linda de formas e cores variadas levaram meus pensamentos atéà IAM – Instituição Assistencial Meimei, de que já falei em outros textos meus (ver HTTP://revivencia-retalhos.blogspot.com), pois, dentre tantas atividades desenvolvidas pela Instituição, sobressai  justamente a campanha do quadradinho de lã.
Nessa campanha permanente (embora tenha seu ponto alto no inverno), os fuxicos são feitos formando quadradinhos de lã de qualquer cor no tamanho de 20cmx20cm, ou a partir de pontos de tricô ou crochê. Um setor se encarrega de separá-los observada a combinação das cores. Feito isso, voluntárias se esmeram no trabalho de juntá-los cuidadosamente, formando mantas para bebês e colchas de vários tamanhos, que são doadas para famílias carentes ou expostas em bazares periódicos.
Observando o lindo trabalho em Matão, deixei-me levar pelas recordações do trabalho das “mãos unidas”, que tanto me acrescentou quando no voluntariado da IAM. Hoje gostaria de deixar registrada mais uma importante atividade da casa: o Programa Tia Marina, ou simplesmente Sala Tia Marina, como a costumamos carinhosamente chamar, numa alusão ao nome do almoxarifado e rouparia, setor que cuida da distribuição e consumo do vestuário e do controle de estoque de roupas novas e seminovas doadas para uso das crianças atendidas pela entidade.
O setor também é responsável tanto pela arrecadação e guarda de roupas infantis e de cama, mesa e banho, como pela verificação da qualidade, quantidade e destinação das peças, já que cuida também do atendimento às necessidades dos diversos setores da IAM em relação à rouparia. Distribui lãs para confecção de quadradinhos, aviamentos e retalhos em geral, para o aproveitamento em outros departamentos.
Os voluntários envolvidos na tarefa trabalham na organização das roupas, separando-as em dois grupos: usadas em boas condições, e usadas para conserto. Esta tarefa é exercida tanto na Instituição como nos lares. Embora não exija formação profissional, o trabalho pede conhecimento de costura e do trato no conserto de roupas, além, obviamente, do respeito ao estatuto da Casa e da assiduidade na tarefa. O comando da atividade está nas mãos de Wanete Aparecida Marins que, de maneira muito competente, desenvolve o trabalho com garra e compromisso, colaborando sobremaneira com Ione Negri, diretora da Unidade VI, onde o Programa Tia Marina está inserido.
Wanete exibe o enxovalzinho
Segundo Wanete, a menina dos olhos da tarefa é o trabalho de montar enxovais de bebê. Depois de separadas, organizadas e muito bem cuidadas, as doações são direcionadas aos diversos setores para que as tarefeiras organizem os enxovais (toalha de banho, mantasde inverno e de verão, edredom, macacões curtos e compridos, camisetas, pagãs e mijões, fraldas de pano e descartáveis, cobertor, sapatinhos de lã, calça plástica e um brinquedinho, para completar o kit). O material é devidamente higienizado, embalado e decorado numa linda embalagem, já com cheirinho de bebê. Os enxovais são distribuídos às mães gestantes devidamente cadastradas que participem dos programas da Instituição, como cursos de higiene e saúde, e de artesanato.
O trabalho nesse setor,às vezes estressante, é grande e diário, o que requer um número razoável de voluntárias. Os obstáculos, entretanto, são superados, pois a alegria em servir, o aprendizado que fica e as amizades que se formam deixam um saldo sempre muito positivo.
Wanete com as lindas e coloridas mantas.
Mas Wanete nos conta com alegria que o ponto forte, que perpassa todo o tempo de atividade do Programa Tia Marina, é mesmo o de confecção das mantas, onde mãos anônimas, magnetizadas com muito amor, trabalham incansavelmente como abelhas operosaspara o aquecimento também da alma, além do corpo. As mantas, ah! As mantas... Multicoloridas, umas simples, outras dignas de uma exposição mais elaborada, merecem todas ser vistas por muita gente, assim como aquelas que cobriram o chão por onde passou o andor na festa de Corpus Christi de Matão.
Compartilhar essa experiência foi meu objetivo. Há tantas maneiras de preencher os dias vazios, melhor ainda quando direcionamos o trabalho para enxugar lágrimas, aquecendo o frio do corpo e da alma.
Marina (desencarnada) foi responsável pelo departamento de vestuário da IAM durante 10 anos.
Visitem o site da IAM    WWW.iam.org