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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Uma história diferente

Sítio São José. Os últimos raios de sol fazem ainda mais dourada a cabeleira das bonecas de milho que exalam seu agradável cheiro. Os pés de feijão e mandioca, murchos pelo calor escaldante, esperam ansiosos a brisa suave que por certo a noite trará. No entardecer, tudo se transforma. Da algazarra das maritacas que aos bandos procuram seus ninhos, aos animais de grande porte que se aconchegam nos currais e nas baias. Menos os tatus que, ao anoitecer, saem de suas tocas à procura de alimentos. É aí que nossa história acontece.

PROVEDOR
  Seu Jacó, dono do sítio, observa a cena que acontece quase sempre nesses finais de tarde modorrentos. Provedor, na altivez de sua aparência de soldado russo, com polainas brancas nas patas e pelo todo negro no resto do corpo, começa sua maratona de sempre. Anda de lá para cá, uivando e, com seu focinho longo, cutucando Boneca, até que esta se cansa, entende o recado e sai em disparada, adentrando uma pequena mata próxima ao sítio.

BONECA

Boneca é uma cadela com ares de Barbie. Seu pelo brilhante e todo amarelado dá maior beleza ao seu porte esguio de bailarina. É caçadora por natureza e sempre encontra o que procura: o buraco de tatu. Mas sempre se irrita quando Provedor, se achando o chefe no comando da operação, empurra-a para a tarefa e fica só olhando. Mesmo assim, cumpre o seu papel. Quando Boneca encontra o que procura, late muito. É o sinal. Provedor chama seu Jacó e lá vão os dois para a tarefa final. Agora, é só colocar a mão no buraco e abater o bicho para o farto almoço do dia seguinte.
Essa é uma cena que acontece com frequência no sítio São José. Seu Jacó não se conforma com a atitude do Provedor. Chama-ode preguiçoso e aproveitador, porque se recusa a fazer o trabalho mais difícil, empurrando-o para sua companheira Mas... Como dizia um ministro do governo que caçava marajás, “cachorro também é gente”. E Provedor, como tal, se vale de seus direitos, uma vez que é cego de um olho. Acredito até que ele tenha entrado com pedido de aposentadoria por invalidez. Enquanto ela não vem, vale-se de sua posição de chefe. E chefe é chefe. E ponto final.

Nota: Essa história foi-me contada por dona Maria Chagas, uma nordestina arretada que, nos seus 78 anos, ainda lida na agora pequena terra ao redor de sua casa na cidade.
FTI Geni   26/11/2012

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