Sítio São José. Os últimos raios de sol fazem ainda mais dourada a cabeleira das bonecas de milho que exalam seu agradável cheiro. Os pés de feijão e mandioca, murchos pelo calor escaldante, esperam ansiosos a brisa suave que por certo a noite trará. No entardecer, tudo se transforma. Da algazarra das maritacas que aos bandos procuram seus ninhos, aos animais de grande porte que se aconchegam nos currais e nas baias. Menos os tatus que, ao anoitecer, saem de suas tocas à procura de alimentos. É aí que nossa história acontece.
PROVEDOR |
BONECA |
Boneca é uma cadela com ares de Barbie. Seu pelo brilhante e todo amarelado dá maior beleza ao seu porte esguio de bailarina. É caçadora por natureza e sempre encontra o que procura: o buraco de tatu. Mas sempre se irrita quando Provedor, se achando o chefe no comando da operação, empurra-a para a tarefa e fica só olhando. Mesmo assim, cumpre o seu papel. Quando Boneca encontra o que procura, late muito. É o sinal. Provedor chama seu Jacó e lá vão os dois para a tarefa final. Agora, é só colocar a mão no buraco e abater o bicho para o farto almoço do dia seguinte.
Essa é uma cena que acontece com frequência no sítio São José. Seu Jacó não se conforma com a atitude do Provedor. Chama-ode preguiçoso e aproveitador, porque se recusa a fazer o trabalho mais difícil, empurrando-o para sua companheira Mas... Como dizia um ministro do governo que caçava marajás, “cachorro também é gente”. E Provedor, como tal, se vale de seus direitos, uma vez que é cego de um olho. Acredito até que ele tenha entrado com pedido de aposentadoria por invalidez. Enquanto ela não vem, vale-se de sua posição de chefe. E chefe é chefe. E ponto final.
Nota: Essa história foi-me contada por dona Maria Chagas, uma nordestina arretada que, nos seus 78 anos, ainda lida na agora pequena terra ao redor de sua casa na cidade.
FTI Geni 26/11/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário