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terça-feira, 8 de maio de 2012

A força das palavras

O sorriso muito branco que vemos nos rostinhos com cabelos encaracolados, lisos, crespos, loiros, castanhos, negros, muito compridos, curtos, com tranças, rastafári que se movimentam esbanjando saúde brincando nos pátios das escolas, creches, quintais, playgrounds, e até mesmo nos minúsculos apês e cortiços, nos mostra crianças felizes que não se importam com a condição social nem financeira (embora uma coisa sempre esteja ligada à outra.

Mas essa ligação eles ainda não percebem. Para eles, o que importa é o mundo do faz de conta. ”Agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês...” Para eles, não existe compromisso. As amizades surgem espontaneamente. As afinidades aparecem... E não raro oferecem oportunidades para brotar o amor.   “... vem me dê a mão a gente agora já não tinha medo...”

Ah! Mas como passa rápido esse tempo. Corre célere driblando aqueles que nunca têm tempo, nem paciência, para perceber a beleza da vida.

A mudança é inevitável. A infância fica para trás e nova fase chega. Fase linda, mas conturbada. Desejos, ansiedade, o corpo se modifica sem que se tenha o entendimento preciso do que está acontecendo. Lágrimas escondidas, revoltas (não se sabe bem por que), espinhas, menstruação. A cabeça cheia de perguntas sem respostas.  Mas o sonho, este sim, continua no mundo do faz de conta... ”“ finja que agora eu era o seu brinquedo, eu era o seu pião, seu bicho preferido “...” e você era a princesa  que eu fiz coroar e era tão linda de se admirar que andava nua pelo meu país...”

Quantos sonhos! A esperança povoa esses sonhos no silêncio de refúgios mil. E nessa confusão de sentimentos, o compromisso é deixado de lado. Até mesmo os afazeres da escola são negligenciados. Os pais, confusos, perdem a paciência e a paz. Veem-se perdidos.  Buscam socorro nos especialistas e nas casas de orações. A fase deles já passou e eles já não sonham mais.  Exigem respeito, que não cultivaram, e entram em pane.

O compromisso do jovem é viver a vida. ”Agora eu era o rei era o bedel era também juiz e pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz. Sim: ser feliz. E pronto!

Mas o tempo, implacável, não deixa por menos, e não tem perdão: a maturidade chega. ”Agora era fatal, que o faz de conta terminasse assim. Prá lá desse quintal era uma noite que não tem mais fim...” E a noite longa mostra que os sonhos são outros, o mundo do faz de conta se apresenta cheio de responsabilidades. É a profissão, o trabalho, a luta por um lugar ao sol. São  os filhos... e dá-lhe compromisso. O compromisso, que era ser feliz, agora é com a sobrevivência.  

Mas, paradoxalmente, num mundo onde imperam a desigualdade, os vícios e a delinquência,  sonha-se, felizmente ainda, com a esperança, a paz, o companheirismo e a solidariedade entre as pessoas.

Sonha-se com o despertar das consciências. Para um compromisso maior que é ser e fazer os outros felizes. A frase de Margaret Med expressa muito bem esse pensamento.:
“Nunca duvide que um grupo de cidadãos comprometidos e preocupados possa mudar o mundo; na verdade, esta é a única forma de mudança que pode dar certo”.

Sonhando e trabalhando muito, unindo forças, caminhamos confiantes num futuro melhor, “... no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido.”

Geni 11-11-09
Foram utilizadas palavras sugeridas pela turma da Faculdade da Terceira Idade (Oficina Literária)