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terça-feira, 10 de julho de 2012

Exemplo a ser seguido

Em Matão, cidade do interior de São Paulo, já é tradição a comemoração de Corpus Christi que atrai milhares de pessoas, seja pela fé, seja pelas verdadeiras obras de arte preparadas durante o ano inteiro e levadas a cabo na madrugada que antecede a festa.
Para enfeitar as ruas por onde passará a procissão, os artesãos, esses artistas anônimos, num concerto de solidariedade e amizade, utilizam uma infinidade de materiais, como serragem, grãos, vidro moído, dolomitas, tecidos, flores, numa infinidade de cores que encantam os olhos de quem visita a cidade. Neste ano, chamou à atenção a grande quantidade de mantas grandes e coloridas, todas trabalhadas com o famoso fuxico, que são, posteriormente, doadas para famílias carentes.
Essas mantas compostas de quadradinhos de lã coloridos montados artisticamente numa combinação linda de formas e cores variadas levaram meus pensamentos atéà IAM – Instituição Assistencial Meimei, de que já falei em outros textos meus (ver HTTP://revivencia-retalhos.blogspot.com), pois, dentre tantas atividades desenvolvidas pela Instituição, sobressai  justamente a campanha do quadradinho de lã.
Nessa campanha permanente (embora tenha seu ponto alto no inverno), os fuxicos são feitos formando quadradinhos de lã de qualquer cor no tamanho de 20cmx20cm, ou a partir de pontos de tricô ou crochê. Um setor se encarrega de separá-los observada a combinação das cores. Feito isso, voluntárias se esmeram no trabalho de juntá-los cuidadosamente, formando mantas para bebês e colchas de vários tamanhos, que são doadas para famílias carentes ou expostas em bazares periódicos.
Observando o lindo trabalho em Matão, deixei-me levar pelas recordações do trabalho das “mãos unidas”, que tanto me acrescentou quando no voluntariado da IAM. Hoje gostaria de deixar registrada mais uma importante atividade da casa: o Programa Tia Marina, ou simplesmente Sala Tia Marina, como a costumamos carinhosamente chamar, numa alusão ao nome do almoxarifado e rouparia, setor que cuida da distribuição e consumo do vestuário e do controle de estoque de roupas novas e seminovas doadas para uso das crianças atendidas pela entidade.
O setor também é responsável tanto pela arrecadação e guarda de roupas infantis e de cama, mesa e banho, como pela verificação da qualidade, quantidade e destinação das peças, já que cuida também do atendimento às necessidades dos diversos setores da IAM em relação à rouparia. Distribui lãs para confecção de quadradinhos, aviamentos e retalhos em geral, para o aproveitamento em outros departamentos.
Os voluntários envolvidos na tarefa trabalham na organização das roupas, separando-as em dois grupos: usadas em boas condições, e usadas para conserto. Esta tarefa é exercida tanto na Instituição como nos lares. Embora não exija formação profissional, o trabalho pede conhecimento de costura e do trato no conserto de roupas, além, obviamente, do respeito ao estatuto da Casa e da assiduidade na tarefa. O comando da atividade está nas mãos de Wanete Aparecida Marins que, de maneira muito competente, desenvolve o trabalho com garra e compromisso, colaborando sobremaneira com Ione Negri, diretora da Unidade VI, onde o Programa Tia Marina está inserido.
Wanete exibe o enxovalzinho
Segundo Wanete, a menina dos olhos da tarefa é o trabalho de montar enxovais de bebê. Depois de separadas, organizadas e muito bem cuidadas, as doações são direcionadas aos diversos setores para que as tarefeiras organizem os enxovais (toalha de banho, mantasde inverno e de verão, edredom, macacões curtos e compridos, camisetas, pagãs e mijões, fraldas de pano e descartáveis, cobertor, sapatinhos de lã, calça plástica e um brinquedinho, para completar o kit). O material é devidamente higienizado, embalado e decorado numa linda embalagem, já com cheirinho de bebê. Os enxovais são distribuídos às mães gestantes devidamente cadastradas que participem dos programas da Instituição, como cursos de higiene e saúde, e de artesanato.
O trabalho nesse setor,às vezes estressante, é grande e diário, o que requer um número razoável de voluntárias. Os obstáculos, entretanto, são superados, pois a alegria em servir, o aprendizado que fica e as amizades que se formam deixam um saldo sempre muito positivo.
Wanete com as lindas e coloridas mantas.
Mas Wanete nos conta com alegria que o ponto forte, que perpassa todo o tempo de atividade do Programa Tia Marina, é mesmo o de confecção das mantas, onde mãos anônimas, magnetizadas com muito amor, trabalham incansavelmente como abelhas operosaspara o aquecimento também da alma, além do corpo. As mantas, ah! As mantas... Multicoloridas, umas simples, outras dignas de uma exposição mais elaborada, merecem todas ser vistas por muita gente, assim como aquelas que cobriram o chão por onde passou o andor na festa de Corpus Christi de Matão.
Compartilhar essa experiência foi meu objetivo. Há tantas maneiras de preencher os dias vazios, melhor ainda quando direcionamos o trabalho para enxugar lágrimas, aquecendo o frio do corpo e da alma.
Marina (desencarnada) foi responsável pelo departamento de vestuário da IAM durante 10 anos.
Visitem o site da IAM    WWW.iam.org

terça-feira, 3 de julho de 2012

HAIKAI

A DELICADA POÉTICA JAPONESA
Trata-se de um poema de origem japonesa que chegou ao Brasil no início do século XX.
Consiste em 17 sílabas japonesas (diferentes das nossas) e dividem-se em 5, 7 e 5 sílabas. Suas principais características são:
Contém referência à natureza.
Refere-se a um evento em particular.
Apresenta tal evento como “acontecendo agora”.
Não tem rima, nem título.
É um poema conciso.
Respeita a simplicidade.
Evita o raciocínio, segue a intuição, a inteligência sensível.





No cafeeiro o balé:                                   
abelhas com sapatinhos
deslizando no mel





Lépida formiga no          
trabalho noturno. 
De manhã
chora a plantação





Cristais de gelo nas folhas
ao sol:  caleidoscópio.
A vida cintila




No tronco ceifado
a vida fugiu de repente.
Será para onde?




Araucária sem flor
na propícia  estação.
Seria uruca?




Beija flor pra trás voa
A luz de ré queimada
Olha o perigo!




O farol alumia. O distraído
cardume brinca com
o anzol nas águas




Na dança macabra dos
esqueletos árvores o olhar
indiferente da queimada




O sol estilhaça
a vidraça que borda o
tapete na sala




Que mar é esse que
Arrasta o corsário que
sonhos carrega?




No verde da relva
pingos escorrem e somem
sorrateiros na terra




Cana caiana cama
Insana da aguardente
que retorna




Piranhas prateadas
bailam no barco onde termina
o espetáculo




Em suas asas
borboletas carregam as bolotas
gigantes dos olhos






O pica pau apressado
ficou sem a própria casa:
trabalho perdido.