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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O nome dela é Luiza - Luiza Hermínia Gallo

Linda, meiga, extrovertida e tantos outros adjetivos que fazem dessa garota uma pessoa de sucesso.
Lembro-me do nosso primeiro contato quando da inscrição para o PROFIT, um programa de atividade física para a terceira idade na modalidade de alongamento. Atendeu-nos com um enorme sorriso que permaneceu durante todo o tempo que durou o projeto.
Para Luiza,todos os dias são como se fossem o primeiro... ou o último. Tem o perfil do comando: disposição, energia e concentração no trabalho. Reserva um cuidado especial para cada aluna em particular, mas não descuida dos estagiários sob seu comando. Se problemas particulares teve, nunca deixou transparecer.
Lidar com idosos hoje está na moda, embora saibamos que não é fácil. Ainda que imbuídas de boa vontade, as pessoas que optam por esse tipo de trabalho nem sempre conseguem vencer as dificuldades que surgem. As turmas são heterogêneas em todos os sentidos: na faixa etária, nas condições de saúde, no nível de escolaridade. Mas a condução de Luiza sempre foi perfeita, mesmo quando teve que trabalhar com algumas intercorrências e egos inflados.
Com muito mérito, é mestra, agora, e certamente vai alçar voos maiores. Sua turma fica triste, mas ao mesmo tempo feliz, torcendo pelo seu sucesso que virá, com certeza. Pessoas como a Luiza fazem a diferença.
Querida
Acredite.  A UNESP deve se orgulhar por ter formado uma aluna tão brilhante.
Turma do alongamento 12/2012

 AULA DELICIOSA


  CONFRATERNI'ZAÇÃO

Uma história diferente

Sítio São José. Os últimos raios de sol fazem ainda mais dourada a cabeleira das bonecas de milho que exalam seu agradável cheiro. Os pés de feijão e mandioca, murchos pelo calor escaldante, esperam ansiosos a brisa suave que por certo a noite trará. No entardecer, tudo se transforma. Da algazarra das maritacas que aos bandos procuram seus ninhos, aos animais de grande porte que se aconchegam nos currais e nas baias. Menos os tatus que, ao anoitecer, saem de suas tocas à procura de alimentos. É aí que nossa história acontece.

PROVEDOR
  Seu Jacó, dono do sítio, observa a cena que acontece quase sempre nesses finais de tarde modorrentos. Provedor, na altivez de sua aparência de soldado russo, com polainas brancas nas patas e pelo todo negro no resto do corpo, começa sua maratona de sempre. Anda de lá para cá, uivando e, com seu focinho longo, cutucando Boneca, até que esta se cansa, entende o recado e sai em disparada, adentrando uma pequena mata próxima ao sítio.

BONECA

Boneca é uma cadela com ares de Barbie. Seu pelo brilhante e todo amarelado dá maior beleza ao seu porte esguio de bailarina. É caçadora por natureza e sempre encontra o que procura: o buraco de tatu. Mas sempre se irrita quando Provedor, se achando o chefe no comando da operação, empurra-a para a tarefa e fica só olhando. Mesmo assim, cumpre o seu papel. Quando Boneca encontra o que procura, late muito. É o sinal. Provedor chama seu Jacó e lá vão os dois para a tarefa final. Agora, é só colocar a mão no buraco e abater o bicho para o farto almoço do dia seguinte.
Essa é uma cena que acontece com frequência no sítio São José. Seu Jacó não se conforma com a atitude do Provedor. Chama-ode preguiçoso e aproveitador, porque se recusa a fazer o trabalho mais difícil, empurrando-o para sua companheira Mas... Como dizia um ministro do governo que caçava marajás, “cachorro também é gente”. E Provedor, como tal, se vale de seus direitos, uma vez que é cego de um olho. Acredito até que ele tenha entrado com pedido de aposentadoria por invalidez. Enquanto ela não vem, vale-se de sua posição de chefe. E chefe é chefe. E ponto final.

Nota: Essa história foi-me contada por dona Maria Chagas, uma nordestina arretada que, nos seus 78 anos, ainda lida na agora pequena terra ao redor de sua casa na cidade.
FTI Geni   26/11/2012

ENTREVISTA- Jeca Tatu

ERRADAMENTE DADO COMO REPRESENTANTE DO CAIPIRA EM GERAL
O famoso “caipira” tem a certeza de que ajudou, pelo menos em parte, a consertara visão distorcida que se tinha do homem do campo.
 Jeca Tatu, homem simples que habita a região rural do Estado de São Paulo, ficou muito conhecido quando da revolta de alguns fazendeiros contra os sertanejos brasileiros que, segundo eles, eram os responsáveis pelos incêndios nos campos. As famosas queimadas, segundo os reclamantes, eram praticadas em demasia e, portanto, prejudicavam os proprietários da terra.
Deitado na rede na varanda de sua casa da fazenda, entre um cigarrinho de palha e um gole de café, gentilmente nos concedeu essa entrevista.
Jeca Tatu. É esse o seu nome verdadeiro?
É assim que gosto de ser chamado.
Ouvi dizer que sua história tem duas interpretações: uma com a visão romântica do homem simples do interior, que fala errado, anda com roupas de riscado e chapéu de palha, é ingênuo, mas extremamente bom e tem profundo amor à terra. Pela outra visão, esse mesmo homem é visto como indolente e alcoólatra,acomodado na pobreza máxima, sem hábitos de higiene, desprovido de cultura  e avesso ao trabalho, funesto parasita da terra e responsável pelos problemas da agricultura.O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Bem... Nem uma coisa nem outra. Nem tão ingênuo, nem bandido.
Explique melhor
O Jeca Tatu que vocês conhecem não se sente representado hoje pelo homem do campoo caipira que muitas vezes é ridicularizado como se fosse um imbecil. É muito melhor representado pelo sertanejo que luta em suas terras trincadas pela seca, que com seus corpos esquálidos e mãos trêmulas, sem conseguir plantar e colher para seu próprio sustento  tentam sobreviver esperando o açude que não vem.
Se a visão do homem simples é distorcida a do homem preguiçoso é real?
Essa segunda visão era fruto da situação do caboclo brasileiro, abandonado pelos poderes públicos às doenças e à indigência, à precariedade da saúde das populações rurais. Minha história, por exemplo, mudou radicalmente quando um médico cruzou meu caminho. Ao passar diante de minha tosca residência, assustou-se com tanta pobreza e, vendo minha coloração amarela e intensa magreza, decidiu me examinar e sem muito esforço diagnosticou o meu problema grave de saúde.
 Que problema era esse e quais eram os sintomas?
Sentia muita fadiga e dores corporais. O que as pessoas viam como preguiça, era na verdadeuma enfermidade tecnicamente conhecida como ancilostomose, o famoso amarelão. Depois que tomei os remédios recomendados, mudei meus hábitos de higiene e passei a usar sapatos (os vermes que provocam esse distúrbio introduzem-se no corpo através da pele dos pés  e das pernas), minha vida mudou completamente. Curei-me, reduzi a bebida,voltei a ter melhor disposição para o trabalho,minha plantação prosperou e me tornei um homem honrado.
Qual a conclusão que o senhor tira de tudo isso?
 Minha história revela que medidas simples poderiam transformar o cenário sombrio onde personagens iguais a mim são tidos como indolentes e alvos fáceis de pessoas mal intencionadas, que sabem o diagnóstico mas, depois de uma passagem rápida que se repete a cada quatro anos, deixam essas pobres criaturas à sua própria sorte.
Sua história ficou muito conhecida, isso é orgulho para o senhor?
Fiquei conhecido e famoso porque sou a imagem do ser legado ao abandono pelo Estado, deixado à mercê de enfermidades típicas dos países atrasados, da miséria e do atraso econômico. Felizmente, essa imagem foiutilizada também como instrumento em operações de esclarecimento sobre a importância do saneamento público e a urgência em erradicar doenças como o amarelão, que matava tantas pessoas nos anos 1920. Isso não é motivo de orgulho,mas fico feliz se, pelo menos, servi de instrumento para a tomada de consciência do povo brasileiro.
Estamos no início do século XX. O senhor acha que até o fim do século nosso país terá resolvido essa situação?
Quero crer que sim, porque o homem da terra só a deixa em último caso, assim mesmo com muita tristeza. Muitas das vezes, não se adapta à nova situação e passa a sentir-se amargurado e infeliz. Quiçá no século XXI nova visão se descortine para um cenário pintado com as cores da esperança.
Obrigada pela entrevista, mas uma última perguntinha: O senhor não quer dizer mesmo seu nome verdadeiro?
JOSÉ BENTO MONTEIRO LOBATO

Geni Bizzo – Jornal literário Claretianas10/2012