O dia se
espreguiça, acordando devagar. No terreiro, o balé das galinhas reverencia numa
ruidosa algazarra o galo campina que, quando canta, muda de cor levantando a
crista vermelha como fogo. A revoada de maritacas colore de verde-amarelo o
azul anil do céu claro. Assim começa mais um espetáculo que a natureza
apresenta todo dia, indiferente se há ou não público para aplaudir.
No quintal,
o velho poço ainda fornece água para banhar a pequena horta. O sarilho geme
enrolando a corda que traz a caçamba, sem pressa, num ritmo cadenciado, cantarolando
enquanto faz seu trabalho. O calor, a luminosidade indireta e a constante
umidade fazem brotar nas encostas dos barrancos as lindas avencas que se
deliciam banhadas pelos respingos do vai e vem da caçamba.
As avencas
são lindas, frágeis e de variadas espécies, admiradas como plantas ornamentais.
As miudinhas são chamadas cabelo de anjo e carregam a fama de espantar mau-olhado.
Outras são usadas na medicina como chás ou compressas.
Para mim
elas representam a delicadeza e, a doçura, e me provocam uma sensação deliciosa,
um fascínio que não consigo entender e, na impossibilidade de cultivá-las, pois
o ambiente em que vivo não é propício (somente o lirismo de Chico consegue
vê-las crescendo na caatinga) debruço-me na borda do poço para admirá-las.
Imagino a
sensação que teria se pudesse tocá-las, acariciá-las como se Sininho fosse, mas
me contento em observar minha imagem refletida no fundo do velho e cansado poço,
sentindo em meu rosto no espelho d’água o respingar das gotinhas que elas me
atiram balançando seus frágeis galhinhos. Divirto-me com as caretas provocadas
pelas ondas formadas e ali me esqueço do tempo. Com o sol, alto volto à
realidade com a certeza que na minha vida sempre será primavera!
Geni
23-09-2013
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