Na
barraca das argolas, o jovem ganha um ursinho de pelúcia para a namorada. No
tiro ao alvo, o guri, segurando o enorme pirulito, chora porque quer o
trenzinho que o pai não consegue acertar.
No carrossel, crianças acenam para os pais encantados com a alegria da
petizada.
O
serviço de alto-falante dá os recadinhos de amor que um anônimo tímido manda
para alguém, oferecendo música. Nos intervalos, faz propaganda dos brinquedos e
lanches. O vai e vem de pessoas enche o ar de cheiro bom de grama
recém-aparada. Olhares furtivos, flertes
carregados de emoção. É o mundo encantado do parque de diversões numa cidade de
pouca ou quase nenhuma opção de lazer.
A
garota loira, com longas mechas de cabelos que se agitam como lençóis no varal,
segura confusa o vestido rodado “saia baiana” azul de bolinhas brancas que o
vento levanta mostrando as rendas da
anágua. Uma criança ainda, que flerta com a maturidade de mulher, fica rubra
quando percebe a presença que a deixa hipnotizada. Ele não está girando. Apenas
a observa com seu olhar doce cor de açúcar caramelado na espera que parece uma
eternidade.
A
roda para. Ela desce com o rosto ruborizado, mesclando tonalidades confusas de
emoção. O jovem se aproxima como uma súbita rajada de vento. Os olhares se
cruzam, as mãos se encontram e se apertam, caminham no meio do alarido da multidão.
Momentos felizes, mas fugazes como a presença do parque.
No
ano seguinte, parque de diversões estará lá novamente, no mesmo lugar, com as
mesmas atrações, as mesmas músicas. Mas a cena de amor já não existe mais para
aquela jovem. E Dalva de Oliveira canta “Guardei teu lencinho para recordar a
boca que nele deixaste ficar...” O sonho a despertara, brincara com ela e, no
final, o desengano. Ficaram as lembranças no lencinho manchado de carmim.
Memórias 23-09-2014
Linda garota de olhos azuis...
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