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terça-feira, 7 de junho de 2011

A MEMÓRIA É LINDA?



A lembrança é linda, infinda, bem-vinda, tirana, insana. É vil gentil, bonita, faz fita, resgata, maltrata, dói, corrói. É delicada, malvada, revolta, conforta. É tudo isso e muito mais.

Certo. A lembrança é linda. Mas será também linda a memória? Ora, não há lembrança sem memória. Como bem diz o poeta, “nós existimos enquanto alguém se lembra de nós”. É a memória que nos traz de volta as recordações, os sonhos, as revivências dos bons – e dos maus – momentos, pois tudo fica guardado, registrado e, mais cedo ou mais tarde, resgatado, às vezes mesmo contra a nossa vontade. Nem mesmo o computador, que a um leve toque de tela nos descortina tudo o que procuramos, nem mesmo o computador, essa mágica maravilha do nosso século, se compara à maravilhosa máquina que é o nosso cérebro.

Recordar é viver, diz antiga canção popular. Eu vivo porque as paredes da memória me trazem lembranças mil. Às vezes tão bem guardadas, que parece querer brincar de esconde-esconde. Nesses momentos, por mais que a busque, ela teima em não aparecer. Eu sei que meus lapsos e tropeços são a memória querendo pregar troças. E por isso, mesmo sofrendo às vezes, eu cuido para que ela se mantenha ativa.

Como é gostoso, numa roda de amigos, num bate papo informal, viajar no tempo. Nós rimos, choramos nos emocionamos. Quantas lembranças, quantas histórias vividas, sentidas, quanta saudade... A memória é linda porque trazemos à tona aquilo que guardamos. É linda porque é seletiva, porque deleta os arquivos que nos ferem.

Exercício de memória:

Somos uma família grande e uma grande família. Reunimo-nos sempre que há algum motivo. E quando não há motivo, inventamos, só para passarmos algumas horas juntos, mesmo sabendo as dificuldades que muitas vezes enfrentaremos só para matar a saudade.

Esse hábito mantemos, embora os tempos tenham mudado e a vida apressada às vezes dificulte nossos encontros. Esse hábito mantemos porque trazemos gravados em nossa memória com muita saudade as reuniões na casa de nosso
pai. Casa humilde, sem conforto, pequena, mas cheia de amor e carinho.

No espaço pequeno, esparramávamos colchões pelo chão (até na cozinha) para acomodar a todos, adultos, jovens, crianças... Durante o dia, ficávamos no quintal à sombra da goiabeira para fugir do calor insuportável.   
Simplesmente, jogávamos conversa fora, contando causos que avançavam noite adentro.
Os feriados prolongados eram esperados com ansiedade. Na velha casa só moravam o patriarca da família e sua esposa, uma vez que os filhos seguiram outros caminhos motivados pela profissão que abraçaram. Tudo era mais difícil, o dinheiro curto, a improvisação nos detalhes, mas quanto aconchego! 

Abraçávamo-nos, chorávamos, cantávamos e todos se arriscavam na cozinha. A divisão do trabalho era prazerosa. O compositor Sérgio Bitencourt retrata bem essas cenas em sua muito inspirada canção, quando nos revela: “Naquela mesa ele contava histórias, que hoje na memória eu guardo e sei de cor...

É a memória linda?
Como é! Tivemos algumas baixas, infelizmente. Mas os que ficamos temos hoje a locomoção facilitada, as distâncias encurtadas, as condições financeiras melhoradas, mas... Papai Noel, coelho da páscoa, carnavais, ensopadão, churrasco, mojica (peixe com mandioca) polenta com frango e a boa caipirinha ficam por conta da memória que, graças a Deus, todos ainda conservamos.

E a velha casa continua lá. De pé, sozinha, como que a esperar para mostrar nas suas paredes as fotografias de nossas lembranças.

Geni 26-05-09.    FTI



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