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terça-feira, 2 de agosto de 2011

SONHO DE MENINO

Muita força,... Pouca força,... lá vai o trem... Café com pão,... Manteiga não...
O apito soa longe provocado pelo maquinista que, recostado à janelinha, observa os transeuntes à beira do caminho. Ele puxa uma corda soltando o ar comprimido que dá voz ao comboio e, ao mesmo tempo, acena sorridente. _ Leonardo retribui e sonha, sentado à beira do caminho sentindo o cheiro agradável do capim cidreira salpicado de orvalho na fria manhã.
A Maria Fumaça segue engolindo fogo, transpirando _ suor quente da caldeira bem alimentada, soltando fuligem que, muitas vezes, fazem furinhos nas roupas estendidas nos varais ao longo da ferrovia.
Todos os dias Leonardo faz o mesmo trajeto, repete os mesmos movimentos_ senta-se à beira da estrada, entre uma touceira e outra do capim santo (aprendeu que são plantados para evitar a erosão do solo) espera solitário a máquina barulhenta para dar o seu costumeiro adeusinho ao gorducho maquinista.
De cócoras, abraçado aos joelhos para se aquecer o menino observa feliz a aproximação da gigante centopéia que, com os pezinhos enrodilhados sustentam enormes vagões nas costas carregados com mercadorias e passageiros. Os sapatinhos rotos sibilam ao contato com os trilhos, mas, ela agüenta... e segue.
O lourinho menino com franjinhas na testa sonha... Aprendeu na escola que lá pelos anos de 1800 um tal de Barão de Mauá, trouxe para o Brasil  a idéia de ferrovias para facilitar o transporte de mercadorias, principalmente o café, mas para ele esse comboio transporta os seus sonhos, conhecer outras terras..
Silêncio... _ Que susto _ O comprido trem some no horizonte. Os cheiros da fumaça, os trilhos quentes por causa do atrito, saturam o ar com intenso calor, os dormentes e as britas salpicados de graxa, deixam um odor característico e, o coração batendo forte, traz o menino à realidade.. Ele, silencioso, começa recolher os gravetos que o maquinista gorducho atirou (faz isso todos os dias) para fazer arder a fornalha de sua casa. Enquanto a outra fornalha aquece a caldeira que fornece o vapor para movimentar o trem essa aquece o pão que perfumado e quente agasalha o estomago do menino sonhador.
Muita força, pouca força..., café com pão, manteiga não...
O trem passa... O tempo passa... Somente a saudade fica e o menino homem se perde nas doces lembranças...

Geni Bizzo

10-05-2010   FTI





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