Postagens populares

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Confissões de Laila.


LAILA
 Não sou enxerida. Muito menos fofoqueira. Mas gosto de prestar atenção em tudo o que acontece ao meu redor. Por causa do meu jeito lerdo e silencioso, chamam-me gorda, molenga, dorminhoca, e tantos outros adjetivos, alguns até elogiosos, como dengosa, por exemplo.  Mas, nesse meu jeito, vivo intensamente, aproveitando as horas para tomar banho de sol, dar minhas corridinhas e observar. Ah! Disso gosto muito. E até dou meus pitacos, embora seja criticada também por isso.

PITY
Meus companheiros diários são muito diferentes. Pity, sangue do meu sangue, em nada puxou a mim. Garota temperamental, mimada e cheia de vontades, quer sempre o privilégio no sofá, no colo ou no tapete. E  consegue, dengosa que é. Quando está disposta, quer brincar e me atormenta com seu chamado estridente; quando está de mau humor, sai de baixo... Irrita-se, fecha-se carrancuda e se encolhe no colo de alguém.

FRED
Frederico, o  Fred é mais doce, brincalhão e carinhoso. Estabanado, corre incansável de um lado para outro, fazendo muito barulho. Passa nas poças d’água molhando-se todo; enche-se de carrapichos. Do seu jeito, é muito feliz. Adora brincar com a Pity, com quem tem mais afinidade. Rolam pelo chão, disputam os mesmos brinquedos e raramente brigam.
Mas voltemos no tempo. Nasci e cresci num lar distante. Em um ambiente de rígida disciplina e com pessoas muito atarefadas, ficava quase sempre sozinha, sem espaço e sem com quem brincar. A solidão me sufocava e, para chamar a atenção, usava de qualquer recurso que encontrasse à mão, o que resultava em severos castigos. Inclusive físicos, acreditem! Mas nem por isso deixei em qualquer instante de amá-los. Reconheço que o que aconteceu foi apenas uma questão de inadaptabilidade. Minha e deles. Pena. Chegou um momento em que não dava mais. Nosso amor não foi suficiente para nos manter juntos. Rompemos e vim para cá.
O começo aqui foi difícil. Sentia muita falta de meu antigo lar e sofria por isso. Hoje já me sinto adaptada à nova vida. Sobrou uma saudade danada, que é mitigada quando eles visitam seus familiares. Nesses momentos, posso desfrutar seus carinhos, sem o estresse de quando vivíamos sob o mesmo teto.
Hoje nossa vida é legal. Dois sofridos partos e a vida sedentária de antes me fizeram engordar muito, o que dificulta meu deslocamento e justifica os adjetivos que me atribuem. Mas, mesmo assim, nossa vida é legal. Não nos faltam a atenção carinhosa, a alimentação caprichada, os cuidados com a higiene e a saúde. Até de minha gordura estão cuidando. Logo, logo, estarei novamente com um corpo de miss...
No inverno usamos roupas adequadas; nas demais estações, ostentamos sempre adereços coloridos, de acordo com a comemoração da época. Ficamos lindos e cheirosos. Estamos sempre juntos, os três. Eu e Fred moramos a menos de uma quadra rua acima, o que facilita nossos encontros e nos permite frequentes trocas de ambiente. O que um lugar ganha em aconchego, ao outro sobra espaço. Se um nos oferece um contato mais íntimo, no outro corremos pela grama, espantando os pássaros que pousam no quintal à procura de frutos e insetos.  É um vai-vem constante a registrar nossa presença, sempre cheia de muita vitalidade. E que ainda queima umas gordurinhas, rsrs.

MAX
Às vezes nossa rotina é quebrada, o que nos estressa. Isso acontece geralmente nos feriados prolongados, ou em dias de festa. Nessas ocasiões, invariavelmente recebemos visitas. São quatro amigos que chegam juntos, invadem nossos espaços e disputam conosco a atenção de todos.  Max, com problemas de saúde, depende de maior isolamento e inspira maiores cuidados. Mas quando se aproxima de mim, é um perigo. Vem com aquele olhar de cachorro morto, querendo coisas que já estão fora do meu repertório. Namorar é carta fora do meu baralho, mas ele não entende e insiste, o que me exige eterna vigilância.
YURI
Yuri já é mais dono de si. Arrogância justificada pela beleza, não posso negar. Com um andar imponente e corpo esbelto evidenciando cuidados com a estética, acha-se o dono do pedaço, mesmo sendo visita. Quando ele chega, não tem para ninguém. Isso nos irrita, mas nos resignamos. Sabemos que esses momentos são passageiros e que tudo voltará à normalidade. Assim, fazemos o possível para tornar nossa convivência pacífica.
PEDRITA E BELINHA
Pedrita e Belinha, mãe e filha, completam o quarteto. Suas visitas são menos frequentes, mas, quando chegam, monopolizam as atenções. Tomam posse de nossas camas e de nossos brinquedos, mesmo que suas bagagens sempre estejam lotadas de apetrechos. A gente se estranha um pouco, embora eu não dê muita bola.
As visitas desses quatro amigos são sempre prazerosas, pelo menos num primeiro momento. Quando mais demoradas, as disputas por espaço e atenção acabam por nos estressar a todos. Quando vão embora, fica o vazio da saudade, até que aconteça um novo encontro.
Para que essas minhas confissões sejam completas, não posso deixar de registrar um assunto penoso para nós. Não o conheci, mas sempre me emociono quando escuto a triste história de Toy que, lindo, educado, amoroso e muito comportado, acabou vítima da maldade humana. Como foi criado com muita disciplina, nunca saía sozinho e, quando acompanhado, obedecia prontamente aos comandos, sem pestanejar. Pity, a única que presenciou os fatos, me conta que, naqueles dias, as pessoas estavam vivendo dias muito tensos e, talvez por isso, todos baixaram um pouco a guarda.
TOY
Toy, procurando alguma coisa na calçada, encontrou o que pensou fosse uma guloseima. Qual o que! Na verdade, era uma armadilha que algum instinto perverso havia colocado ali. Ninguém percebeu a tragédia e ele veio a falecer, não sem antes agonizar, colocando para fora o veneno que ingerira. Comoção geral, tristeza infinda, saudade imensa, uma doce lembrança. Mas a vida tinha que continuar. Aí chegou o Fred. Depois vim eu, inicialmente para passar uma temporada, e um pouco daquele vazio acabou sendo de alguma forma preenchido.
Não sou enxerida. Muito menos fofoqueira. Minha idade e a lentidão dos meus movimentos me fazem mais atenta a tudo. Passo horas meditando, principalmente quando de meus banhos de sol. Pensando bem, tenho uma vida de rainha e, como gosto de história, resolvi fazer essas confissões, contando um pouco da nossa que, não fosse pela ausência do Toy, seria a mais linda história que alguém já viveu.
Como estamos em clima de festa, deixo a minha mensagem: Que o Natal aconteça em sua vida como um lindo momento e que o Ano Novo seja tão especial quanto você!
Laila 20/12/2011


 
        



5 comentários:

  1. Ahhh pequena Laila, muito observadora...atenta a tds os detalhes dessa galerinha q chega p aprontar...rsrsrs...adoreiiiiiiiii...

    Tia Gê, como sempre me emocionei, q saudades do nosso Toyzinho....esse sim era educado, um gentleman com as meninas...rsrs...bjsssssssssss

    ResponderExcluir
  2. Ge, simplesmente linda sua história. Deus lhe conserve sempre assim, com este maravilhoso dom de fazer com que as pessoas se emocionem com suas palavras! Um grande beijo no seu coração!
    "Felizes os cães, que pelo faro descobrem os amigos".
    Sua amiga Solange

    ResponderExcluir
  3. GE.....linda historia.....muito fofa esta Laila que acabo de conhecer mas se apresenta como uma velha amiga, Toy então, parece que o vejo correndo....suas historias me emocionam sempre .... ADORO....Muitos Bjus e otimo NATAL...

    ResponderExcluir
  4. Caríssima Geni,
    Enquanto leio tuas memórias, tenho também aos meus pés, uma Layla abricó toda encaracolada e gorduchinha, qual tapete muito macio, que ao pressentir que posso me levantar, já está em pé, olhando-me e quase a perguntar : - que faremos agora??? São companhias maravilhosas...au..au..
    Vera Gracia

    ResponderExcluir
  5. É isso amiga, adorei fazer homenagem ã esses inseparáveis amiguinhos. obrigada pelo
    incentivo

    ResponderExcluir